Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
A Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), é uma classificação de saúde e domínios relacionados com a mesma, que estabelece uma linguagem universal. Esta terminologia centra-se no indivíduo, integrando os conceitos de funcionalidade e incapacidade, bem como o contexto em que este se insere.
A CIF apresenta-se como uma mudança de paradigma de um modelo médico, que considerava a saúde como ausência de doença, para um modelo biopsicossocial, em que a saúde resulta da incorporação dos fatores biológicos, sociais e individuais, integrando a funcionalidade e incapacidade humana.
Desta forma, esta classificação constitui um instrumento importante na investigação, considerando todas as dimensões de incapacidade – deficiências ao nível de estruturas e funções corporais, limitações nas atividades da vida diária e restrições ao nível da participação social.
Segundo a CIF, a funcionalidade e a incapacidade resultam das interações complexas entre condições de saúde, caraterísticas intrínsecas da pessoa, e os fatores contextuais. Deste modo, para compreender a condição de saúde do indivíduo torna-se necessário estabelecer relação entre as estruturas e as funções do corpo, as atividades, a participação e fatores contextuais, sejam eles fatores pessoais ou ambientais.
(Organização Mundial da Saúde; Direção-Geral da Saúde, 2004) (Steiner, et al., 2002) (Swiss Paraplegic Research, 2017)
Figura 1: Modelo biopsicossocial integrativo da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF)
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Manual de Utilizador
"A CIF não substitui as ferramentas comumente utilizadas para mensurar aspetos
sobre a funcionalidade e sobre o ambiente, mas identifica e qualifica a situação,
diagnosticada por diversos meios, usando uma linguagem comum, que padroniza os
conceitos e a nomenclatura."
(Araujo & Buchalla, 2015)
conceitos importantes
Participação (d)
Condição de Saúde
Termo geral para doença, desordem, lesão ou trauma podendo também incluir outras circunstâncias, como o envelhecimento, stresse, anomalia congénita ou predisposição genética. As condições de saúde são codificadas usando a Classificação Internacional de Doença (CID-10);
Funções do Corpo (b)
São as funções fisiológicas dos sistemas corporais, incluindo as funções psicológicas. Os problemas nas funções do corpo (como por exemplo, a redução do movimento, fraqueza muscular, dor e fadiga) são referidos como deficiências de uma função do corpo;
Estruturas do Corpo (s)
As estruturas do corpo referem-se às regiões anatómicas do corpo, como órgãos, membros e os seus componentes. O desvio significativo ou perda de estruturas do corpo (como por exemplo, deformidades das articulações) são referidos como deficiências de uma estrutura do corpo;
Atividades (d)
Representam a execução de uma determinada ação ou tarefa, por parte do indivíduo. Corresponde à perspectiva individual da funcionalidade.
Exemplos: Comer, vestir-se;
É o envolvimento de um indivíduo numa situação da vida real. Representa a perspetiva social da funcionalidade. Exemplos: Trabalho, jogar futebol;
Fatores Ambientais (e)
Constituem o ambiente físico, social e atitudinal no qual as pessoas vivem e conduzem a sua vida. Referem-se a todos os aspectos do mundo externo ou extrínseco, que formam o contexto da vida de um indivíduo e, como tal, têm um impacto positivo ou negativo sobre a funcionalidade do mesmo. Os fatores positivos são denominados de facilitadores e os fatores negativos de barreiras.
Facilitadores
Através da sua ausência ou presença, melhoram a funcionalidade e reduzem a incapacidade de um indivíduo.
Exemplos: ambiente físico acessível, disponibilidade de tecnologia de assistência apropriada, atitudes positivas dos indivíduos em relação à incapacidade.
Barreiras
Através da sua ausência ou presença, limitam a funcionalidade e provocam incapacidade aos indivíduos.
Exemplos: ambiente físico inacessível, falta de tecnologia de assistência apropriada, atitudes negativas das pessoas em relação à incapacidade;
Fatores Pessoais
São componentes intrínsecas ao indivíduo, tais como, idade, sexo, nível social e experiências de vida, que não estão incorporados na CIF mas que os utilizadores devem ter em conta ao utilizar a classificação;
Participação (d)
(Organização Mundial da Saúde; Direção-Geral da Saúde, 2004)
COMO CLASSIFICAR?
A CIF recorre a um sistema alfanumérico em que as letras "b", "s", "d" e "e" são utilizadas para indicar Funções do Corpo (b), Estruturas do Corpo (s), Atividades (d), Participação (d) e Fatores Ambientais (e). Essas letras são seguidas por um código numérico que começa com o número do capítulo, seguido pelo segundo, terceiro e quarto níveis.
Os códigos da CIF só estão completos com a presença de um qualificador, que indica a magnitude do nível de saúde, por parte do utente. Os qualificadores são codificados com um, dois ou mais dígitos após um ponto separador. Sem estes, os códigos não têm significado:
Código CIF = Prefixo + Código Numérico + Qualificadores
Componentes
1º Qualificador
2º Qualificador
3º Qualificador
(Fontes, A., 2014) (Organização Mundial da Saúde; Direção-Geral da Saúde, 2004)
conceitos importantes
Qualificadores
Indicam a magnitude do nível de saúde. São codificados com um, dois ou mais dígitos após um ponto;
Exemplo: s720174.2 Deficiência moderada, com acumulação de fluidos (edema) na parte proximal da articulação da região do ombro.
Deficiências
É uma perda ou anormalidade de uma estrutura do corpo ou de uma função fisiológica;
Incapacidade
Abrange as variadas manifestações de uma doença, sendo elas deficiências nas funções do corpo, dificuldades no desempenho de atividades da vida diária ou desvantagens na interação do indivíduo com a sociedade;
Desempenho
Descreve o que o indivíduo faz no seu ambiente de vida habitual. Pode descrever uma “experiência vivida” ou “o envolvimento numa situação de vida”. O ambiente habitual também é descrito através dos fatores ambientais;
Capacidade
Descreve a aptidão de um indivíduo para executar uma tarefa ou uma ação, representando o nível máximo possível de funcionalidade que um indivíduo pode atingir, num dado momento. É utilizado como qualificador dentro dos domínios atividades e participação;
Funcionalidade
Compreende as funções do corpo e a capacidade do indivíduo em realizar atividades e tarefas significativas no quotidiano, bem como na sua participação na sociedade;
(Organização Mundial da Saúde; Direção-Geral da Saúde, 2004)
CORE SETS
"A utilização dos core sets, permite uma descrição abrangente e interdisciplinar da funcionalidade e incapacidade, auxiliando os profissionais de saúde em qualquer fase do processo de avaliação/intervenção, direcionando-o para os objetivos do indivíduo."
(Stucki, et al., 2002)
A CIF apresenta mais de 1400 categorias, não demonstrando grande fiabilidade no uso da prática clínica por parte dos profissionais de saúde, pelo que, foi necessário desenvolver um instrumento mais prático e de igual forma abrangente.
(Glässel, Kirchberger, Stucki & Cieza, 2011)
Desta forma foram criados Core Sets para diferentes tipos de cuidados de saúde (agudo, pós-agudo, cuidados continuados ou domiciliário) e para diferentes condições de saúde ou estados relacionados com a mesma.
(Fontes, A., 2014)
Fois neste sentido que surgiram os Core Sets, categorias da CIF que descrevem uma abordagem de funcionalidade e incapacidade, relacionadas com uma condição de saúde específica, baseadas no modelo biopsicossocial.
(Üstün, Chatterji & Kostanjsek, 2004)
A partir daqui, ficou facilitada a orientação do raciocínio clínico, por parte dos profissionais de saúde, dado que estes Core Sets organizam as deficiências nas estruturas e funções, as limitações nas atividades e restrições na participação, mais comuns, do indivíduo, que apresente numa determinada condição de saúde.
Referências Bibliográficas:
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Araujo, E. S., & Buchalla, C. M. (2015). O uso da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde em inquéritos de saúde: uma reflexão sobre limites e possibilidades. Revista Brasileira de Epidemiologia, 720-724.
-
Glässel, A., Kirchberger, I., Stucki, G., & Cieza, A. (2011). Does the Comprehensive International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF) Core Set for Breast Cancer capture the problems in Functioning treated by physiotherapists in women with breast cancer? Physiotherapy, 97, 34-35.
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Ptyushkin, P., Selb, M., & Cieza, A. (2012). ICF Core Sets. Em J. Bickenbach, A. Cieza, A. Rauch, & G. Stucki, ICF Core Sets - Manual for Clinical Practice (pp. 14-21). Canada: Hogrefe Publishing.
-
Organização Mundial de Saúde. (2005). Guia do Principiante - Para uma Linguagem Comum de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. pp. 1-21.
-
Steiner, W. A., Ryser, L., Huber, E., Uebelhart, D., Aeschlimann, A., & Stucki, G. (2002). Use of the ICF Model as a Clinical Problem-Solving Tool in Physical Therapy and Rehabilitation Medicine. Physical Therapy, 82, 1098-1107.
-
Stucki, G., Cieza, A., Ewert, T., Kostanjsek, N., Chatterji, S., & üstün, T. (2002). Application of the International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF) in clinical practice. Disability and Rehabilitation, 24(5), pp. 281-282.
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Swiss Paraplegic Research. (2017). ICF Case Studies - The Integrative Bio-psycho-social Model of Functioning, Disability and Health. Obtido de ICF Case Studies: https://www.icf-casestudies.org/en/introduction/introduction-to-the-icf/the-integrative-bio-psycho-social-model-of-functioning-disability-and-health
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Üstün, B., Chatterji, S., & Kostanjsek, N. (2004). Comments from WHO for the Journal of Rehabilitation Medicine Special Supplement on ICF Core Sets. Journal of Rehabilitation Medicine, 44, 7-8.